quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Montejunto, as sementeiras de carvalhos seis anos depois

"A serra que hoje chamão de Monte Junto (...) consta de huma só pedra, ou monte que por igual, e juntamente crece, e sobe, em meio de terras lavradias (...) e he tão agra e alcantilada que com grande difficuldade se pode subir a cavallo (...) quasi tudo he pedra continua (...) grossas penedias vestidas a partes de matos espessos, e crecidos, guarida de lobos, e outros animais silvestres."   
Frei Luis de Sousa, 1623

A Serra de Montejunto foi percorrida por um grande incêndio em Setembro de 2003, que atingiu cerca de 5000 hectares.  Em Outubro do mesmo ano, o Núcleo de Lisboa do FAPAS realizou a primeira sementeira de árvores nativas na zona ardida (16.000 sementes de carvalho-cerquinho e sobreiro).

As sementeiras de carvalho-cerquinho continuaram em 2005, 2007, 2008 e 2009.   No passado dia 22 de Novembro, fomos visitar as zonas semeadas em 2003 e 2005.

O cerquinho é uma árvore nativa que ocorre naturalmente em Montejunto, onde formava extensas matas antes da intervenção do homem. Centenas de anos de pastoreio e mais tarde a florestação dos baldios com pinheiros no século XX reduziram o cerquinho a uma presença quase simbólica em Montejunto, reduzida a pequenos núcleos dispersos nas zonas mais abrigadas.

Em 30 de Novembro  de 2003 a sementeira realizou-se num dia de tempestade, com várias dezenas de voluntários e a colaboração da Alambi, ONGA  de Alenquer.





                                                       
Seis anos depois, a zona da sementeira está inacessível, coberta de mato denso com 1,50 a 2 metros de altura. No entanto, pesquisámos na berma do caminho e encontrámos vários cerquinhos com 1 metro a 1,20 metros:





















Pela amostra dos cerquinhos na berma da estrada, o seu desenvolvimento foi inferior ao das espécies arbustivas, por isso os exemplares que se encontram no meio do mato ainda não são visíveis. Por duas razões, provavelmente: 1 - os cerquinhos têm um crescimento relativamente lento da parte aérea nos primeiros 5-6 anos (mas em condições normais a partir dessa idade ultrapassam em altura as espécies arbustivas); 2 - esta zona de sementeira era em 2003 um matagal alto, e os arbustos regeneraram de toiça, ou seja, de gemas situadas nas raízes, debaixo do solo mas próximo da superfície (perderam apenas a parte aérea, beneficiando das  raízes já desenvolvidas).  O crescimento da parte aérea nesta condições é naturalmente muito mais rápido que a partir de semente, porque a planta não precisa de  canalizar energias para o desenvolvimento das raízes.

Embaixo: detalhe das folhas do carvalho-cerquinho















Ainda em 2003, a 7 de Dezembro, semeámos mais alguns milhares de cerquinhos num local que era um povoamento de pinheiro de alepo, que ardeu totalmente.  Debaixo do pinhal, o mato era pouco denso e a regeneração dos arbustos foi principalmente a partir de sementes, por isso aqui encontrámos os cerquinhos ao mesmo nível dos matos, com cerca de 1,20 metros de altura:





O mesmo local em 2003:












Em 27 de Fevereiro de 2005 voltámos a Montejunto para mais uma sementeira de cerquinhos:

 


Em 2009 o matagal, com mais de 2 metros de altura, está impenetrável.   Apenas conseguimos localizar cerquinhos na berma do caminho. Um deles estava mesmo no meio do trilho.
(embaixo: o mesmo trilho em 2005)






Os cerquinhos de sementeira estão aqui ainda com metade da altura do mato, pelo só se tornarão visíveis dentro de 2 ou 3 anos.

Por último visitámos um dos locais de sementeira do Inverno passado.  Na orla de um pequeno pinhal manso que sobreviveu parcialmente ao incêndio de 2003, voluntários com o Fapas semearam algumas centenas de bolotas de cerquinho em Dezembro de 2008.  Encontrámos agora alguns rebentos com cerca de 10-15 cm de altura, o que significa que a parte aérea foi regenerada recentemente (provavelmente tinha sido vítima da seca ou refeição de coelhos).